Serial Experiments Lain
Ashram
03 de Dezembro de 2013

“Somos apenas aplicativos, não precisamos de nossos corpos.”
Lain Iwakura
entrevistas que escrever os scripts de Lain foi uma tarefa muito difícil, até mesmo para alguém experiente. Na mesma entrevista que estava nos extras do VHS da série, para Yoshitoshi Abe, a principal ideia de Lain é a maneira que sua realidade se modifica e a sugestão de que enquanto seja ficção hoje, amanhã poderá ser fato científico.
O produtor Yasuyuki Ueda disse em uma entrevista feita para a revista Animerica (que não existe mais) que ele esperava que o público ocidental não entendesse nada (acho que ele não tinha dimensão do quanto sua série faria sucesso no ocidente). Lain é um trabalho baseado na sensibilidade do povo japonês e que seria um tipo de declaração de guerra à cultura e aos valores americanos que foi adotado no Japão após a 2ª guerra mundial. Só que não foi bem assim, Lain atingiu popularidade no mundo inteiro e se tornou um anime Cult ao lado de obras incríveis como “Akira” e “Ghost In The Shell”.
Por fim, Lain retrata também muito sobre o desenvolvimento das telecomunicações, que passa a ser algo indispensável no mundo de hoje. É possível identificar a presença de postes, telefones e vários fios de linha telefônica em close enquanto você apenas ouve o que os personagens estão conversando. O anime não só levanta várias questões como aborda muitos assuntos que vão desde a existência de um “Deus” até a manipulação de pensamentos e lembranças. Serial Experimentes Lain é um anime diferente, intrigante e obrigatório para quem curte uma história complexa. Se você ainda não assistiu procure, veja, e tire suas conclusões.

“Serial Experiments Lain” é um anime lançado em 1998 pelo estúdio Triangle Staff. Dirigido por Ryutaro Nakamura (Ghost Hound) e com ilustrações de Yoshitoshi Abe, a história ganha um tom surrealista e filosófico. Logo no início da série, temos uma cena surpreendente. Chisa Yomoda, uma estudante ginasial que a princípio parece alucinada, comete suicídio se jogando de um prédio. A partir daí, fatos estranhos começam acontecer, como as colegas de classe dela receberem e-mails vindos da moça após a morte dela, dizendo que abandonou seu corpo, mas ainda vive e que existe um “Deus” onde ela está.
Entra então em cena a protagonista Lain Iwakura, uma garota de 13 anos, tímida e reservada e com uma família totalmente indiferente. Um pai que adora navis (computadores do futuro) e suas expansões. A mãe, de poucas palavras, não demonstra emoção alguma e a irmã mais velha, Mika, sempre está reclamando de algo. Lain também recebeu os e-mails e, sem saber o que fazer, tenta conversar com seus pais, porém nada se resolve. Esse é o ponto crucial da série, uma vez que marca o início de uma longa jornada de descobertas entre os dois mundos: o real e o virtual chamado de wired (uma espécie de internet do futuro).
Durante sua jornada, Lain conhece a boate Cyberia, apresentada por suas amigas de escola. Cyberia é uma espécie de ponto de encontro dos jovens, lugar que fornece a eles a experiência de se conectarem à wired e fazerem o uso de “Accela”, a droga do momento, muito popular entre alguns jovens.
Com a ajuda de seu poderosíssimo navi, Lain começa a se familiarizar cada vez mais com wired, ao ponto de sua própria realidade ser influenciada por esse estranho mundo virtual. Em algumas cenas, podemos ouvir um ruído semelhante ao de um computador e em outras a própria protagonista e os demais personagens conversando com uma voz robótica. No decorrer da trama, Lain encontra alguns perigos, como o “deus” da Wired e a ameaça hacker chamada “knights”. Há também aliados como o garoto Taro e sua melhor amiga Arisu.
Ao longo da série, Lain muda bastante e passa de uma menina introspectiva a uma personagem com personalidade forte e de incrível habilidade no uso dos Navis. Além disso, ela consegue usar poderes paranormais fora da wired, o que nos leva a questionar se a garota sempre foi assim ou se na verdade é outra pessoa, assumindo a identidade da personagem principal.
Teoria da conspiração, evolução e até mesmo extraterrestres são temas recorrentes no anime. Surgem muitas perguntas e conceitos filosóficos como: quem somos na verdade? Existe algum tipo de Deus? Estamos todos conectados? O que realmente é Lain? O que é real afinal de contas, o mundo ou a wired? Por tratar de temas bem atuais na época em que foi lançado, Serial Experiments Lain também nos atrai por levantar questões inerentes ao existencialismo, à angústia pela necessidade de respostas e, claro, à fragilidade nas relações interpessoais através da internet e das comunidades online. Em alguns momentos é impossível dizer se Lain está no mundo real ou na wired.
Se alguém se lembrou de Matrix saiba que boa parte do filme criado pelos irmãos Wachowski possui vários elementos retirados de Lain. A direção de Ryutaro é excelente, os enquadramentos são ótimos, os jogos de câmera bem posicionados mostram muito do que ele quer mostrar. Por exemplo, durante uma conversa de Lain com Arisu, ela diz que “o mundo real não é tão real assim”, estando atrás de uma grade de um prédio, passando a ideia de que ela está se sentindo presa, enjaulada. Outra cena que mostra o brilhantismo de Ryutaro na direção é o episódio em que aparece um ET com uma roupa listrada nas cores vermelha e verde encostado à porta observando Lain. Em outro episódio, quando a protagonista está confusa e vai pedir desculpas a Arisu, ela aparece com a mesma roupa que o ET usava e encostada à porta, criando uma analogia à cena anterior, nos mostrando o quanto ela está se sentindo um ser de outro planeta. A animação feita por Abe é um show a parte. Com cores vivas, personagens com traços fortes e um design único, ele cria uma ambientação perfeita para situar todas as cenas. O diretor Ryutaro disse em uma entrevista contida nos extras do vhs original quando o anime foi lançado que, por se tratar de uma história surreal, seria muito difícil manipular os personagens. Coube então ao escritor Chiaki Konaka desenvolver toda a trama enquanto Abe e Nakaumura cuidavam do design. Abe desenvolveu o estilo do desenho e uma das ideias principais foi a de explorar as emoções dos espectadores de um modo difícil. Para exemplificar, há uma sequência que se passa na escola, o corredor está vazio, mas é hora do lanche e deveria haver pessoas ali. Surge, logo, um senso diferente de mistério, algo bem intrigante e refinado. Existe outra cena em que Lain está indo para o colégio e o cenário de fundo é completamente branco, deixando em dúvida se ela está ou não no mundo real.
A série provoca um efeito de manter as alucinações por tanto tempo que o espectador esquece que são alucinações, até o momento em que a realidade aparece. O escritor Konaka sempre disse em seus depoimentos durante
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