Retro Gaming - Parte 1 de 2
Luĉjo
13 de Fevereiro de 2014

No começo de 2014, em plena nova geração de consoles; novos gráficos, jogabilidade aperfeiçoada, jogos inovadores sendo lançados todas as semanas. A pergunta: para que jogar jogos mais antigos? Melhor, por que raios alguém jogaria algo que foi lançado a 10, 20 ou quase 30 anos atrás?! A resposta: por que não?
O que é?
“Retro gaming” é o ato de se jogar jogos antigos, independente da plataforma. Podem ser jogados em sua plataforma original (em um console antigo, como um NES, ou em um computador antigo, como um Amiga) ou em plataformas modernas através de emuladores, máquinas virtuais e relançamentos adaptados para as máquinas modernas.
O termo não estabelece um gênero específico nem época específica. O jogo não precisa ter mais de 20 anos de idade para ser considerado algo “retrô”. Considerando a velocidade da evolução da tecnologia e do lançamento de novos jogos, um jogo com mais de 5 anos pode muito bem já ser considerado “antigo”. Porém é sim possível encontrar uma maior concentração de jogos antigos muito apreciados pelo retro gamers na década de 90. Isso porque durante essa década já havia tecnologia o bastante para jogos bem complexos e também foi o berço de muitos clássicos que são respeitados até hoje, ou que deram origem a séries muito famosas.
Por quê?
Todo gamer que aprecia jogos antigos já foi questionado pelo menos uma vez da razão de jogar esses jogos, considerando a abundância de jogos novos para se jogar, com gráficos melhores e jogabilidade cada vez melhor trabalhada.
A verdade é que não há um motivo específico e único. Se fosse para escolher um motivo que valesse para todos, seria o gosto pessoal. Cada gamer tem seus estilos de preferência e uma expectativa com relação à experiência do jogo que vai jogar, e os criadores de jogos são responsáveis por oferecer experiências para atender todos os tipos de gamers. Claro, é impossível um jogo ser 100% perfeito para todos os jogadores, então cada criador de jogos, seja um game designer solitário, seja uma enorme softhouse, foca no público que quer atender.
Ser um retro gamer nao é um “luxo para poucos” ou algo digno de mais respeito que outros gostos, aliás, não é nem sequer um gosto exclusivo. Claro, devem haver aqueles que jogam apenas jogos antigos, não duvido, mas tendo a acreditar que, em geral, devam ser daqueles extremistas que acham que só os jogos velhos é que prestam, o que é obviamente besteira. Ao mesmo tempo discordo também dos que rejeitam os jogos antigos como se necessariamente sejam piores que os novos, alegando que jogar coisas antigas é perda de tempo com tantas novas tendências e lançamentos. Sendo um gosto, como qualquer outro, obviamente não acho que todos devam gostar, mas há uma certa troca de farpas entre os que gostam e os que não gostam às vezes.
Voltemos aos motivos. Como disse, cada jogador tem os seus, mas vou agrupar aqui alguns dos que vejo serem mais frequentes, lembrando que cada pessoa pode jogar jogos antigos por uma, algumas, ou todas estas razões (e inúmeras outras!):
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Nostalgia pura: aqueles que jogam os jogos que jogavam durante a infância, para relembrar os bons momentos e curtir a experiência novamente. Quando se trata de nostalgia, o jogo nem precisa ser muito brilhante nem ter muita história (se tiver), apenas precisa nos fazer lembrar da época que passávamos horas com o controle ou mouse nas mãos.
Revista inglesa dedicada exclusivamente a jogos antigos

Outlaws, shooter clássico de velho oeste, com animações muito bem feitas e uma trilha sonora absolutamente impecável
Alex Kidd, um clássico do Master System

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Valor histórico: sabe aquele FPS que você tanto gosta? Ou aquele RPG que você admira? Tudo começou em algum lugar. Como diz um grande amigo meu (here’s looking at you, Jeebs), no mundo dos games, nada se cria. Uma ideia nova é praticamente impossível hoje em dia, o que há são ideias que foram bem trabalhadas ou não. Da mesma forma, muitos jogos de hoje em dia se inspiram em clássicos do passado, e muitas séries começaram décadas atrás.
Wolfenstein 3D, o precursor do formato mais conhecido de FPS

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Uma experiência diferente: jogos antigos oferecem experiências muito diferentes das dos jogos de hoje em dia. Essas experiências têm lados piores do que as mais novas, lados melhores, e muitos lados tão bons quanto. Muitos dos apreciadores de jogos antigos admitem gostar do visual antigo, mesmo que antiquado. O que mais importa é ser uma experiência “nova” (mesmo sendo velha!).
Grim Fandango, um dos melhores jogos de aventura de todos os tempos, dublado brilhantemente em português

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Um estímulo para a imaginação: os jogos mais antigos tendem a oferecerem uma experiência visual mais limitada, devido a uma limitação tecnológica. Claro, alguns jogos conseguem criar um estilo visual que não perde sua jovialidade no tempo, mas mesmo nesses casos a diferença é perceptível. Muitos apreciadores desses jogos defendem (e eu me encaixo entre eles), que a limitação visual força o cérebro a “preencher as lacunas”, ativando nosso poder de imaginação, como ler um livro. A verdade é que não há processador (nem equipe de modeladores 3d) capaz de gerar tudo que nossa imaginação é capaz, e muitas vezes a exigência por gráficos cada vez mais perfeitos tende a criar jogos cada vez mais belos, mas com conteúdo mais limitado.
Ultima IV, um dos títulos da série que marcou para sempre o mundo dos RPGs de computador

Motivos específicos à parte, há um motivo certamente em comum para todos: jogar um bom jogo. Desde quando o primeiro jogo eletrônico foi criado até os dias de hoje, milhões de pessoas tentaram criar jogos que fossem excelentes, que deram tudo de si para oferecer uma experiência única e inesquecível aos jogadores. Jogos assim são lançados todos os anos, e certamente continuarão sendo lançados até o final da história da raça humana, mas e os que já foram. Um jogo excelente que tenha sido criado há 10, 15 ou 20 anos atrás, perde seu “status” simplesmente por ser antiquado em alguns pontos? Vejam bem, não digo que um jogos não envelhecem, nem que possam sim perder parte de seu charme com o passar dos anos, mas quando pensamos nos quesitos “conteúdo” e “qualidade da experiência”, há sim como um jogo continuar atraente por todo esse tempo. Quando alguém tem uma ideia boa e a executa bem, o jogo está pronto, acabado e eu, pessoalmente, considero um desperdício do talento dos criadores deixar de jogar o jogo só porque é antigo, como se todos os clássicos precisassem ser refeitos usando tecnologia moderna para se tornarem atraentes novamente.
Da mesma forma que continuamos assistindo Casablanca, Cidadão Kane, O Sétimo Selo, os filmes do Hitchcock e muitos outros clássicos do cinema, simplesmente porque continuam excelentes, ou ouvindo músicas gravadas ou escritas há décadas ou mesmo compostas séculos atrás, certas experiências podem perder o lado “novidade” que certamente tiveram em suas épocas, mas não seu charme nem sua qualidade. Portanto, creio que esses jogos merecem, no mínimo, uma chance. Merecem ser jogados que seja por algumas horinhas, com cabeça aberta para a experiência.
O Sétimo Selo, filme clássico de 1957
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