Realizada a devida apresentação, agora posso ir ao que importa: o Orquestra RPG.
Atualmente, meu grande vício são os board games. Não só como jogador, mas, agora, como criador também. Então, procurando coisas na internet sobre design e criação de jogos, seguindo algumas indicações de amigos, acabei encontrando, no site Aventurando-se, o concurso para criação de jogos "Orquestra RPG", organizado pelo Jairo Borges Filho e Guilherme Korn. Inicialmente, pensei em participar pois me pareceu que o concurso poderia envolver a criação de board games também, mas fui informado que não: só RPG. Desinteressei-me, afinal, faz anos que eu nem jogo nem leio sobre RPG (não por falta de vontade, mas por questões de prioridades mesmo). Mas, já que tava ali, continuei seguindo o concurso, acompanhei o desenrolar da coisa e o início de alguns projetos e, então, vi que o nível não era tão alto quanto eu esperava (principalmente porque eu tinha acabado de conhecer o ‘Pulse’, RPG interessantíssimo – talvez genial – que nasceu num concurso semelhante). Dentro de toda a proposta da iniciativa, acabei tendo uma ideia que talvez desse em algo legal. Resolvi participar e meu projeto, ‘Desvio para o negro’, acabou chegando na final!
Orquestra RPG
Nielison
17 de Dezembro de 2013

O conceito do Orquestra RPG é bem interessante e desafiador. Resumindo, o esquema é o seguinte: os organizadores definiriam uma playlist de músicas variadas e os participantes teriam 10 dias para criar um RPG que tivesse alguma relação com uma das músicas da playlist (poderia ser algo inspirado pela letra, pelo ritmo, pela estrutura, qualquer coisa que tivesse algo a ver com a música). O projeto deveria ser escrito em documento a ser compartilhado no facebook do Orquestra RPG para que todos pudessem acompanha-lo. Nestes 10 dias, quando quisessem, os criadores se inscreveriam oficialmente no concurso, momento em que, ao mesmo tempo, deveriam votar no projeto de um outro participante para seguir para a próxima fase. Entraram nesta segunda fase os quatro RPGs com mais votos; os quatro seriam divididos em dois grupos com dois projetos; de cada grupo, seria decidido, pelos organizadores, um projeto para passar para a terceira e última fase, com dois RPGs disputando a vitória, a ser decidida por voto popular.
Uma ideia bem interessante, e se quiserem entender melhor, basta clicar aqui.
Como já disse, ando por fora da cena RPG, tanto brasileira quanto mundial, há anos; além disso, nunca participei de um concurso de criação de qualquer coisa, então não tenho nenhum grau de comparação para poder julgar o Orquestra RPG. Esta foi a primeira edição do concurso, e tudo tem corrido muito bem e de forma organizada. A ideia do concurso é muito criativa e, ao mesmo tempo, propõe a criação de RPGs diferentes, inovativos, que acrescentem significativamente algo ao cenário brasileiro; além disso, os organizadores foram sempre muito solícitos e simpáticos e conseguiram levar o concurso sem muitos atropelos nem maiores problemas. O concurso tem corrido de forma muito tranquila. Ou seja, a iniciativa tem tudo para der certo e se consolidar, trazendo cada vez mais visibilidade, participantes e projetos interessantes. Que fique meus parabéns aos organizadores.
O que eu tenho pra apontar como negativo no concurso foi a forma como os projetos seguiam para as etapas seguintes. Achei bem estranho que, na primeira fase, os próprios participantes decidam quais projetos irão, possivelmente, competir com o seu. Me pergunto: o que impediria que eles votassem no pior projeto, na opinião deles, para que, assim, o páreo ficasse mais leve pro seu lado? Entendo que, aí, os organizadores consideram o fair play dos participantes, que todos possuem um bom caráter e votaram no que realmente acham melhor. É bonito isso, mas será que é assim que funciona? (Mas aqui, meu pensamento pode ter sido até maldoso, porque, no fim das contas, os quatro jogos que passaram para a segunda fase foram realmente os quatro melhores projetos do concurso.) Bem, seguindo... Na segunda fase, dos quatro que passaram, foi formado dois grupos. Aí eu também já vejo uma falha: e se num destes grupos estiverem os dois melhores projetos? Isso significa que na terceira fase, a final, não teríamos os dois melhores, o que pode ser injusto... Por fim, colocar a escolha do vencedor na mão do voto popular também me parece errôneo, visto que pode ser que acabe vencendo não o melhor projeto, mas o do cara mais popular, que conseguiu fazer uma propaganda maior e ganhar votos de pessoas que nem sabem o que é um RPG.
Penso que, numa nova edição do Orquestra RPG, isso deveria ser revisto. Fica aí minha sugestão pros organizadores!
Quanto aos projetos inscritos, como já dito, eu esperava que o nível fosse mais alto. E também que o número de participantes fosse ser bem maior. Li e acompanhei todos os projetos ‘rivais’, e encontrei ideias muito interessantes e criativas, mas a maioria muito mal desenvolvidas, de modo que tinha muito projeto mal escrito, com texto confuso e, até, inacabados. Entendo que 10 dias não é suficiente para se criar o melhor RPG do mundo, mas eu também fui participante e consegui criar algo ‘acabado’ e coerente nesse tempo, e fiz tudo realmente partindo do zero. Não quero, aqui, puxar pro meu lado, mas dizer que fica a impressão que os participantes, mesmo tendo grandes ideias, não se preocupam com o processo de desenvolvimento, com o texto de seu RPG, muitas vezes parecendo que estão escrevendo pra eles mesmos, e não para um público generalizado.
Os projetos que mais se destacaram, na minha opinião, foram justamente os quatro que chegaram na segunda fase do concurso. Segue uma brevíssima descrição deles (o nome de cada projeta está linkado com o documento virtual do RPG, pra quem quiser dar uma conferida):
O ‘Guardião’, do Encho Chagas, – com uma ideia que me lembrou o ‘Wraith’, da antiga linha Storyteller – propõe que os jogadores interpretem dois personagens: uma pessoa normal e uma espécie de anjo da guarda, só que – e aqui entra o que eu acho mais interessante – este ‘anjo da guarda’ é o guardião de um outro jogador.
‘Imakinato’, o outro jogo finalista, de Marcos Silva, possui um conceito parecido, ao meu ver, porém aqui os jogadores não interpretam dois personagens, mas um só que vive em dois ‘universos’ diferentes. O planeta sofreu algum tipo de acidente onde os personagens jogadores morreram, mas agora eles vivem num mundo ‘sobrenatural’, após o acidente, e ao mesmo tempo no mundo real, só que no passado, quatro dias antes do incidente.
Já ‘Insominium’, é um jogo narrativo com elementos de board games para três jogadores. Nele, um jogador está sonhando, enquanto os outros dois tentam influenciá-lo através de seu sonho: um deles procura tortura-lo utilizando elementos de seus traumas pessoais enquanto o outro tenta protege-lo, mantendo o trauma oculto.
O meu projeto, ‘Desvio para o negro’, teve como base a música ‘Paint it black’, dos Rolling Stones. Sempre gostei muito dessa música, e, depois que vi que ela fazia parte da playlist do concurso, fui analisar a letra direitinho e, quando li o trecho “I want to paint it black/No colors anymore/I want them to turn black”, pensei logo num mundo todo negro e lembrei-me do livro ‘Ensaio sobre a cegueira’, de Saramago. Pensei em criar um RPG num universo em que todas as pessoas, de uma hora pra outra, ficaram cegas, o mundo entrou em caos, e os jogadores deveriam interpretar justamente um cego tentando sobreviver neste caos e, quem sabe, descobrir o motivo dessa ‘cegueira total’. Mas eu ainda procurava algo que tornasse o jogo mais criativo, inovador. Foi quando pensei em criar um sistema em que os jogadores, também, estejam cegos, ou seja, devem jogar de olhos fechados/vendados. Foram três, quatro dias pensando nisso sem parar, até que cheguei em algo simples, mas que considero que suporte tudo que eu queria passar e construir com esse jogo. As jogadas de ação são realizadas com os jogadores puxando peças coloridas que representam os atributos e chances de falha dos jogadores, este sempre de olhos fechados, e o narrador é o único que vê o resultado das jogadas, que depende das cores das peças puxadas.
O mais interessante, nestes quatro projetos, é que todos possuem ideias criativas, todos propõem algo bem interessante e inovador, mas o mesmo tempo são completamente diferentes, tanto em termos de jogabilidade quando na temática. Creio que isto, por si só, já caracteriza um sucesso para o Orquestra RPG.
Depois de alguns problemas com a votação popular para eleger os vencedores, a organização decidiu que a final será decidida pelo número de curtidas nas fanpages dos dois projetos, o ‘Desvio para o negro’ e ‘Imakinato’. O resultado será conferido no dia 17 de dezembro, às 21h. Neste tempo, os criadores estão livres para desenvolver ainda mais seus RPGs e aproveitar a fanpage para receber comentários, críticas, dúvidas, enfim, conversar com as pessoas sobre seus projetos. Então, quem se interessar, procura o nome dos jogos no facebook e dá uma conferida!
Bem, acho que é tudo.
Prazer em conhece-los e até a próxima!

Opa! Sou o Nielison Brito e estou começando agora como novo colaborador do GonG. Formado em física (mas não praticante), funcionário público e pensador em tempo integral. Pelo lado nerd, gosto de e leio sobre filmes, quadrinhos, literatura e board games, principalmente. Fui jogador de RPG há eras, e estou começando a virar jogador de vídeo game depois de velho. Minha religião é o universo.
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