Rick Troula

O grupo já enfrentou diversas ameaças em sua guerra lutando por todos os cantos do planeta. Na verdade, ocorreram coisas demais para serem abordadas aqui, mas a história está num ponto muito interessante e as consequências de tudo que eles fazem têm repercussões pesadas e definitivas. Muitos dos personagens mudaram, novos entraram e alguns ficaram pelo caminho. E a atenção dada aos personagens coadjuvantes, sejam soldados, funcionários e oficiais do Bureau enriquece demais a história.
O gibi em sua grande maioria foi escrito por Mignola e algum colaborador, geralmente John Arcudi, e já teve uma série de artistas. Na cronologia principal Guy Davis foi o desenhista por muito tempo e seu estilo perturbado casou perfeitamente com o tema. Suas figuras esquisitas e monstros demoníacos agregaram muito a HQ e seu storytelling soberbo fez da leitura um prazer assustador em diversas edições. Recentemente ele deixou o título e Tyler Crook assumiu. Longe de ser ruim Crook vêem buscando seu espaço, mas eu sinto falta da perturbação de Davis. Mas diversos desenhistas já passaram pelas páginas do gibi, incluindo os brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá. Destaque para a arte visceral de James Harren, um dos desenhistas mais interessantes que apareceu no mercado nos últimos anos. É dele a arte da mini-série em duas partes Abe Sapien The Devil Does Not Jest escrita por Mignola e Arcudi e da insana história em três partes The Long Death mostrando o embate entre o possuído Captain Daimio e o vingativo Johann Kraus. O gibi é espetacular e tem algumas das cenas de
DAREDEVIL Vol.3

Já que falamos em Guy Davis aproveito para chamar atenção para um trabalho autoral dele chamado The Marquis. Escrito e desenhado por ele, o gibi conta as aventuras de um ex-inquisidor da igreja que tem o poder de enxergar demônios disfarçados de seres humanos e usa esse poder para caçá-los. Armado de um sabre e um par de pistolas especiais ele vive sua caça incessante aos demônios que infestam Venisalle, uma versão da França do século 18 dominada pela opressiva igreja e pela nobreza corrompida.
Davis traz toda sua linguagem de horror para o gibi ilustrando monstros perturbadores e profanos e explorando o rebuscado design da época. Os personagens são bem elaborados e representados e a narrativa visual é ótima e cativante com cenas de combate dinâmicas e dramáticas.
A primeira história saiu em 1997 pela Caliber Comics, mas eu só tomei conhecimento quando a Dark Horse lançou o encadernado Inferno que compila as duas primeiras histórias Danse Macabre e Intermezzo. Davis pretende fechar a saga de Vol de Galle, o protagonista caçador de demônios, com mais três histórias. Vale conferir.


BPRD, o Homem Sem Medo, um caçador de demônios e um ladrão violento
23 de Fevereiro de 2013
O objetivo aqui é falar de quadrinhos. Majoritariamente quadrinhos publicados no exterior. Neste espaço buscarei comentar títulos de quadrinhos publicados nos EUA e na Europa que possam interessar aos leitores gongnianos. Eventualmente resgatarei publicações mais antigas indicando possíveis leituras e ocasionalmente posso tocar no universo dos Mangás, mas será muito raro, pois confesso minha ignorância no tema. Além disso, sempre que possível, abordarei artbooks e livros sobre artistas no geral.

O gibi do Daredevil (Demolidor) é muito antigo, sua estréia nos quadrinhos data lá atrás na década de 1960, mas o que eu vou abordar aqui é a terceira “encarnação” desse título. Lançado em 2011 Daredevil Vol. 3 trouxe o personagem na abordagem mais leve, divertida e genial desde que Miller transformou o personagem na década de 1980. Não me entenda mal, eu adoro o que Miller fez com o personagem, na verdade ele reinventou o Daredevil tornando-o um personagem muito melhor. Se você se lembra da minha segunda coluna falei sobre isso lá. Mas depois de tantos anos de personagem amargurado e depressivo, que culminou até em uma besta passagem vilanesca, Daredevil surge como um personagem mais aventureiro e voltando a vencer depois de perder por tanto tempo. Não que a vida dele tenha ficado mais fácil, mas o gibi apresenta um Daredevil explorando formas diferentes de enfrentar os problemas.
O sucesso dessa nova versão se deve inteiramente ao time criativo. Mark Waid, veterando escritor de quadrinhos que já fez de tudo no mercado, é o mentor por trás dessa nova abordagem. Waid faz um de seus melhores trabalhos escrevendo um Homem sem Medo menos dark e explorando de forma brilhante tanto a cegueira quanto o lado advogado de Matt Murdock. Fazia tempo que a relação Murdock/Daredevil não era tão bem trabalhada. A reinterpretação de Waid é inovadora e traz a diversão de volta a leitura dos quadrinhos com uma narrativa ágil e inteligente interpretando os personagens da melhor forma possível, sejam eles regulares freqüentadores do gibi ou convidados especiais
como Capitão América, Dr. Estranho e Wolverine. É a melhor versão do personagem desde a época de Bendis e Maleev, e arrisco dizer que Waid acertou a mão em todos esses convidados do gibi e mais ainda ao escrever os colaboradores regulares de Murdock e seu mais novo interesse romântico.
THE MARQUIS
Parker é um desgraçado. E um desgraçado bom demais no que ele faz: vitimar violentamente aqueles que cruzam seu caminho e roubar em grande estilo. A grosso modo esse é o protagonista das histórias de crime de Richard Stark, pseudônimo do escritor Donald E. Westlake. Para quem gosta de histórias de crime o ladrão profissional Parker é um prato cheio. E pra quem gosta de quadrinhos de crime as adaptações que Darwyn Cooke tem feito dos livros são espetaculares.
PARKER THE MARTINI EDITION

Cooke é um dos mais completos quadrinistas da atualidade, seu desenho estilizado é soberbo e sua narrativa visual é quase sem par no mercado de hoje. Poucos quadrinistas conseguem apresentar uma cena de forma tão brilhante quanto ele. E Cooke traz tudo isso em sua melhor forma para Parker. Tendo adaptado três dos livros de Westlake, The Hunter, The Outfit e The Score, Cooke estabeleceu uma série que é difícil de perder. A única coisa ruim é que só saíram três até agora.
Mas para compensar, a IDW, editora que publica o gibi, lançou Parker The Martini Edition, um encadernado de luxo compilando as duas primeiras histórias e recheado de extras. A edição é tão primorosa e graficamente bem cuidada que da até receio de manusear, e o conteúdo não desaponta. Acondicionado em uma luva com design perfeito a edição traz as histórias em um formato maior do que o gibi tradicional, na linha dos Absolutes da DC (tema pra uma coluna futura). Além de poder apreciar o trabalho de Cooke em um tamanho maior, a edição ainda tem um portfólio inspirado no personagem e seu universo, uma história curta adaptando o final de The Seventh e uma entrevista com o autor.
É um tiro na cara de caro, custa 75 dólares, mas vale cada centavo.
combate mais animais que eu já vi, literalmente já que inclui a batalha épica de um alce contra um deus jaguar.
São muitos encadernados, eu sei, mas valerá seu tempo se você gostar do gênero tanto quanto eu.


BPRD
Depois de abordar o gibi do Hellboy na última coluna, aproveito para trazer à sua atenção o outro título que compõe o universo do personagem: o BPRD (Bureau of Paranormal Research and Defense). A HQ se originou nas páginas do próprio gibi do Hellboy e trata das aventuras do grupo governamental de investigação e combate ao oculto que foi a casa do demônio vermelho durante suas primeiras histórias. Foi lá que ele conheceu e conviveu com diversos dos personagens que expandiram e enriqueceram o universo Hellboy como Abe Sapien, Liz Sherman, Homunculus, Kate Corrigan entre outros. Quando ele deixou o grupo e seu gibi passou a focar nas suas aventuras solo, era natural que os demais personagens que ganharam uma boa base de fãs também ganhassem um gibi próprio, e assim surgiu BPRD.

A publicação já passa da centésima edição com mais de dez encadernados lançados e diversas histórias curtas. Desde o início o gibi foca na luta do Bureau para combater as forças da escuridão, mas mais do que isso ele se propôs a explorar e se aprofundar de forma inteligente nos personagens e nas relações entre eles. As histórias abordavam temas sombrios hora flertando com o terror hora com o suspense e aproveitando para explorar as histórias de seus personagens que tinham pouco espaço quando Hellboy estava por perto. Aliás, a ausência do demônio vermelho potencializou o gibi, pois todos os demais personagens são mais vulneráveis do que ele enriquecendo as histórias enraizadas no terror.


E a arte não fica atrás. Paolo Rivera desenhou as primeiras edições revezando com Marcos Martin e ambos fizeram um grande trabalho. A interpretação visual dos poderes do personagem é genial e inovadora e o storytelling é magistral, cada um com seu estilo. Rivera é muito original e inventivo, além de ser um baita desenhista. O traço de Martin é mais estilizado e ágil tornando o ritmo de sua narrativa único. E a entrada de Chris Samnee como novo desenhista só somou ao time. O que ele fez nas poucas edições que desenhou foi incrível e mal posso esperar pra ver o resto. O trabalho tipográfico de Joe Caramagna torna real a aguçada audição do personagem e as cores de Javier Rodriguez e Muntsa Vicente criam uma identidade inconfundível para o título.

Se você é um fã do personagem ou simplesmente busca um título de super herói diferente para ler, Daredevil Vol. 3 pode agradá-lo e surpreendê-lo.

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