Rick Troula


Southern Bastards, Hellboy no circo, um monge no oeste e mulheres!
29 de Junho de 2014
O objetivo aqui é falar de quadrinhos. Majoritariamente quadrinhos publicados no exterior. Neste espaço buscarei comentar títulos de quadrinhos publicados nos EUA e na Europa que possam interessar aos leitores gongnianos. Eventualmente resgatarei publicações mais antigas indicando possíveis leituras e ocasionalmente posso tocar no universo dos Mangás, mas será muito raro, pois confesso minha ignorância no tema. Além disso, sempre que possível, abordarei artbooks e livros sobre artistas no geral.

SOUTHERN BASTARDS
Para começar essa coluna trago uma ideia nova. Eu geralmente espero um novo título completar o seu primeiro arco para falar dele, o que se da por volta da sexta edição. É um pouco injusto e burro criticar uma série antes disso, não que não seja possível, mas no geral é injusto. Porém existem séries que se apresentam boas e promissoras logo de início e eu sempre penso que as pessoas podiam já começar a acompanhá-las ao invés de esperar. Então inauguro aqui essa Ideia de falar de alguns títulos que tenham acabado de sair, não tome como uma promessa de qualidade, mas sim como um indício e uma empolgação da minha parte. E não garanto que isso ocorra em todas as colunas, vai depender dos próprios títulos.
Southern Bastards é um gibi de crime ambientado no mítico e violento sul dos EUA. Escrito por Jason Aaron e desenhado por Jason Latour o título será mais um marco nos gibis de crime a julgar pelo nível das duas primeiras edições. Aaron é o autor de Scalped e trabalhou bastante em Wolverine e Latour desenhou Wolverine, BPRD e Winter Soldier além de também escrever alguns títulos pra Marvel e a Image. A dupla visita o sul norte americano com muito conhecimento de causa, ambos são sulistas, e busca explorar o ambiente opressor e violento para contar a história de Earl Tubb um velho irritado e taciturno voltando para sua cidade natal dominada pelo violento técnico do time de futebol Euless Boss. E esse retorno tem tudo para botar fogo no ambiente.

Logo na primeira edição eu já estava imerso no universo de tensão e violência que a história traz e a segunda edição só intensificou isso. Gostei muito e a série promete demais.

THE SHAOLIN COWBOY


HELLBOY MIDNIGHT CIRCUS
Existem diversas histórias ambientadas no universo do Hellboy que não tratam diretamente das aventuras do protagonista. Essa é uma das inúmeras vantagens de explorar o personagem através de minisséries como faz Mignola. Muitos dos títulos oriundos dele, como BPRD e Abe Sapien, que depois se tornaram sequenciais surgiram assim, mas as vezes Mignola pode se dar ao luxo de explorar partes não tão visitadas da história de Hellboy, e é isso que acontece em Hellboy Midnight Circus. A história aborda o protagonista criança metido com um circo sobrenatural que tem estranhas ligações com o Inferno.
A história conta com o time criativo do título principal do Hellboy tendo Mignola no roteiro, Duncan Fegredo na arte e Dave Stewart cuidando das cores. O resultado é excelente e faz a história se encaixar bem no universo do demônio vermelho. Como tudo ligado a Hellboy a história é direta, mas repleta de significados transitando por diversas mitologias e criaturas sem se prender a nenhuma. O foco é mais infantil do que no Hellboy adulto, mas não abre mão da atmosfera macabra e sombria. A arte de Fegredo é belíssima explorando os valores de cinza com nanquim aguado diferente da arte final tradicional que ele usa normalmente, mas funciona tão bem para o pequeno Hellboy quanto para o adulto. E Stewart traz a sutileza de soluções que compõe seu genial repertório de cores.

A história se passa em 1948, pouco depois da aparição de Hellboy e de sua subsequente “adoção” pelo Professor Bruttenholm e mostra o pequeno demônio fugindo do birô e caindo em um circo demoníaco. Mignola aproveita a oportunidade para tanto desenvolver ainda mais seu protagonista como para fortalecer a relação deste com seu pai adotivo. E faz isso com a característica simplicidade de seus roteiros, sem melodrama arrastado ou enfadonhas explanações. E a história toda é recheada de referências a atual fase do Hellboy adulto no Inferno.
Com 56 páginas a HQ conta uma história divertida e interessante explorando um período ainda nebuloso da vida de Hellboy. Ainda há muito para contar, mas esta é uma ótima introdução.


Absurdo é a palavra que melhor descreve esse gibi. Shaolin Cowboy foi lançado em 2004 de forma independente por seu criador Geoff Darrow e recentemente ganhou uma nova série pela Dark Horse. A história segue os passos de um monge sem nome vagando pelo oeste americano em uma época não definida e enfrentando todo o tipo de inimigo absurdo que vem em busca de coletar a recompensa pela sua cabeça.
O gibi sempre foi absurdo e insanamente desenhado por Darrow conhecido por seu psicótico detalhismo. Famoso por suas séries ricamente detalhadas ao lado de Frank Miller, Darrow é um mestre na construção de cenas entupidas de informações visuais. Basta ver algumas páginas de Hard Boiled, sua mini-série da década de 1990 ao lado de Miller para notar.
E ele traz toda essa virtuosidade de detalhes e violência para a mais nova série de Shaolin Cowboy. As três primeiras edições podem ser definidas como uma investigação visual à carnificina de zumbis. Absurdo, eu sei, mas é isso mesmo, páginas e mais páginas do monge arrebentando zumbi atrás de zumbi com os punhos e com seu bastão atrelado a serras elétricas. Serras elétricas!!
Não há muita história até aqui, mas tem pancadaria que não acaba mais. Quem precisa de detalhes de enredo quando se tem violência desenhada de forma tão minuciosa que parece uma investigação forense? Se você gosta do absurdo como eu, vale checar Shaolin Cowboy.

SERGE BIRAULT CORPUS DELICTI
Serge Birault é um artista francês especialista em ilustrar a forma feminina, mas ele o faz de um jeito bem peculiar. Com uma combinação de pin ups e caricaturas, Birault mescla um estilo bastante plástico e gráfico com uma boa dose de humor. Suas imagens de mulheres tatuadas, góticas e vamps foram enfim compiladas em Corpus Delicti. O livro não é muito grande, tem pouco menos de 150 páginas, mas é recheado de ilustrações de mulheres dos mais variados tipos, inclusive caricaturas de famosas, explorações de linguagem e design e alguns tutoriais. É uma boa amostragem do trabalho dele, apesar do preço salgado de 30 euros. Salgado pra nós por aqui.

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