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                         Rick Troula

Calvin, Sleeper e como a DC faz quadrinhos!


18 de Fevereiro de 2014

O objetivo aqui é falar de quadrinhos. Majoritariamente quadrinhos publicados no exterior. Neste espaço buscarei comentar títulos de quadrinhos publicados nos EUA e na Europa que possam interessar aos leitores gongnianos. Eventualmente resgatarei publicações mais antigas indicando possíveis leituras e ocasionalmente posso tocar no universo dos Mangás, mas será muito raro, pois confesso minha ignorância no tema. Além disso, sempre que possível, abordarei artbooks e livros sobre artistas no geral.

SLEEPER

 

Sleeper é uma série lançada pela Wildstorm em 2003. Escrita por Ed Brubaker e com arte de Sean Phillips, mesmo time criativo de Criminal abordado aqui na última coluna, Sleeper conta a história de Holden Carver, um agente do governo infiltrado em uma organização criminosa. Carver, vítima de uma conexão com um artefato misterioso, ganhou a capacidade de armazenar e distribuir dor. Tido como morto após uma missão trágica ele se insere na organização liderada por TAO, um super vilão criado por Alan Moore na época em que ele escrevia WildC.A.T.S., e passa a trabalhar como um agente duplo. A genialidade do plot de Brubaker é que o único que sabe dessa missão, John Lynch, entra em coma após ser ferido. Então ninguém fora Holden sabe que ele não é de fato um super vilão.

 

 

CALVIN AND HOBBES

 

Quando comecei essa coluna eu sabia que eventualmente falaria do Calvin, como você podia supor pela imagem que me representa. Quase comecei a primeira coluna com ele, mas como eu queria focar títulos que estavam saindo no momento acabei deixando de lado. Agora, depois de 14 colunas, acho que já da pra abordar a maior invenção da humanidade depois da roda.

Ok, não serei tão dramático, mas eu adoro Calvin. Eu já li todas as tiras umas quinhentas vezes em diferentes estágios da vida e eu ri em todas elas, mesmo sabendo a maioria de cor. Culpo Calvin por boa parte do meu apreço pelas histórias em quadrinhos e por ser uma das maiores influências no jeito que eu encaro e entendo narrativa visual e até o humor. E já que saiu um documentário sobre seu autor achei que era hora de tratar dele aqui.

 

Calvin and Hobbes foi criado por Bill Watterson no início da década de 1980 e passou a ser publicado em jornais diariamente em novembro de 1985. As tiras acompanham as aventuras de Calvin, um precoce garoto de 6 anos e seu tigre de pelúcia Haroldo, Hobbes no original. As aventuras da dupla revolucionaram as tiras de jornal em uma época onde os grandes avanços no meio pareciam mortos e introduziu a toda uma nova geração o poder das tirinhas bem escritas e bem desenhadas como uma forma narrativa e de entretenimento inteligente. Watterson, um cartunista norte americano, é um gênio da forma tanto do ponto de vista visual como narrativo e usa magistralmente os personagens para tratar dos mais diversos assuntos sempre com uma dose ácida de humor e inteligência. Sua imaginação ecoada pelo próprio protagonista conduz o leitor a lugares diferentes e aborda temas corriqueiros e complexos com a mesma habilidade. Aliás, é nos corriqueiros, quando ele explora situações que são comuns a todos nós que ele realmente impressiona.

A arte de Watterson é genial, das pinceladas a nanquim a forma como ele trabalha a narrativa nas tiras, a cuidadosa aplicação das cores, as fantásticas e revolucionárias páginas dominicais, toda a visualidade da tirinha é soberba. Watterson, além de um grande cartunista, ainda se dignou a parar quando achou que tinha feito tudo que podia. Ao contrário da maioria de seus pares que publicam tiras até depois de mortos, dez anos depois de começar a lançar as tirinhas ele parou com tudo dizendo que havia explorado tudo o que queria. Sem falar na opção de não faturar em cima de zilhões de possíveis produtos, mas essa é outra história e você pode ler tudo sobre ela por aí na net.

 

O importante é que você tem que ler Calvin, e já que não temos mais tirinhas novas, o melhor jeito é ler The Complete Calvin and Hobbes, um super tijolo baiano compilando todas as 150 tirinhas já lançadas nos 18 álbuns do personagem. São três volumes em uma luva belíssima com um cuidado gráfico primoroso e uma introdução do próprio Watterson direcionada aos fãs. Isso mesmo, ele escreveu pra nós e a leitura é de emocionar. Só senti falta daquelas tirinhas de uma única imagem que os volumes individuais tinham, mas é a única crítica. O preço é salgado, mas comprando lá fora é bem mais em conta. O peso, no entanto, não tem como aliviar. Mas vale e muito.

E pra finalizar, se você quiser se dar aquele presente para animar a vida, sugiro o Calvin and Hobbes Sunday Pages 1985 - 1995, uma compilação da exposição realizada pelo Ohio State University Cartoon Research Library. A exposição apresentou uma seleção de tiras dominicais e ocorreu 5 anos depois do final da publicação. E tudo sobre ela é sensacional, a começar pelo fato do próprio Watterson ter selecionado as tiras e elas serem todas comentadas e levemente dissecadas por ele. E há uma introdução escrita pelo autor onde ele reexamina sua obra. Fenomenal pra dizer o mínimo.

A série possui duas temporadas de 12 edições cada. A primeira estabelece a trama e Brubaker e Phillips mais uma vez entregam uma baita série. O gibi traz óbvios questionamentos para o personagem que tem que agir como vilão mesmo não sendo um, mas também mistura muito bem humor negro com uma narrativa dramática. O texto de Brubaker, como sempre, é ótimo, ele é um mestre em desenvolver personagens, basta ler qualquer de suas histórias para saber. Mas em Sleeper Brubaker é ainda melhor, pois todos os personagens são vilões, maníacos, homicidas e ainda assim você torce por eles. E principalmente pelo protagonista, pois Carver é o herói noir definitivo, bem intencionado, sofrido e trágico. E a arte de Phillips se encaixa perfeitamente a temática, ele é um artista com fortes tendências noir e nesta série sua arte cai como uma luva.

 

Ótima série e história, não há como errar aqui se você gosta de histórias de crime, super heróis ou simplesmente boas e pesadas histórias. Há diversas coletâneas, basta escolher uma opção e aproveitar.

DC COMICS GUIDE TO COMICS

 

A DC tem uma linha sensacional de livros abordado a produção de Histórias em Quadrinhos. A Marvel saiu na frente ao lançar o clássico How to Draw Comics the Marvel Way na década de 1970 e depois fez poucas incursões nos livros técnicos abordando o processo produtivo de um gibi. Já a DC chegou bem mais tarde, mas lançou uma coleção excepcional e bem mais aprofundada.

 

O primeiro livro da série, DC Comics Guide to Pencilling, foi lançado em 2001 e aborda o trabalho do desenhista de um gibi. O autor, Klaus Janson, é um dos grandes quadrinistas da indústria tendo trabalhado desenhando seus próprios gibis, arte finalizando o trabalho de outros, como fez no seminal Batman The Darknight Returns de Miller ou como editor da DC. E Janson aborda de forma clara e bem explicada os diversos aspectos do trabalho do desenhista de HQs dos princípios básicos do desenho as complexidades da narrativa visual e do storytelling. Obviamente que o livro é introdutório ao assunto sem se aprofundar demais em nenhuma parte, como nem poderia, mas na parte sobre storytelling ele é bastante cuidadoso e completo e serve muito bem como uma porta de entrada.

O segundo livro, também lançado em 2001, foi DC Comics Guide to Writing Comics escrito por Denny O´Neil, outra lenda viva dos quadrinhos e editor da linha Batman há anos. O livro aborda o trabalho do roteirista de quadrinhos e toca em diversos aspectos práticos e teóricos do processo de escrita de um gibi, como organizar uma história, gêneros e as particularidades de escrever uma HQ. Este também é iniciante, mas funciona bem para escritores aspirantes.

 

Dois anos depois Klaus Janson voltou com DC Comics Guide to Inking, terceiro livro da série que aborda a prática do arte finalista de quadrinhos. Janson, como citado, tem diversos trabalhos importantes como arte finalista e traz toda sua experiência ressaltando os aspectos importantes da arte final e o que ela pode fazer. Não é tão prático, mas ainda assim bastante instrutivo.

Em 2004 o quarto livro da série foi lançado e combinou os dois assuntos restantes. DC Comics Guide to Coloring and Lettering Comics aborda a colorização e letrerização de um gibi. Mark Chiarello, de quem eu já falei quando abordei Batman Black and White, é o autor da parte sobre cor e Todd Klein, veterano letrista de gibis cuida da parte sobre letras. Chiarello traz uma visão conceitual e narrativa sobre as cores de quadrinhos, o que pode ser meio decepcionante se você espera encontrar técnicas e mais sobre a prática de colorir gibis. Mas não se engane! Óbvio que é importante entender e aprender como colorir na prática, mas isso você pode encontrar em diversos tutoriais pela net. O que Chiarello trás é bem mais importante e difícil de sacar, são os princípios por trás da colorização de uma HQ. Klein faz o mesmo com o processo do letrista com um pouco mais de ênfase na prática apresentando sua vasta coleção de soluções e sua virtuosidade no assunto. Aliás, o site de Klein é uma fonte sobre o assunto. Arrisco dizer que esse é o meu livro preferido da série.

 

O quinto livro é bem mais recente, lançado em 2009 DC Comics Guide to Digitally Drawing Comics de Feeddie E. Williams II aborda o atual processo digital de trabalhar com quadrinhos, ou pelo menos a forma como o autor trabalha com quadrinhos digitalmente. Confesso que dei pouca bola pra esse livro quando ele saiu. Primeiro porque não tinha muito interesse na produção digital de quadrinhos e porque não gostava muito do trabalho do autor. Comprei mais porque gosto da série. E me surpreendi. É bastante completo e bem explicado e é o mais How To da série inteira. Lotado de exemplos e bem explorado o livro é um ótimo ponto de partida pra quem quer fazer gibis usando o computador.

E o último da série até agora acabou de sair e aborda a produção de um gibi como um todo. E talvez seja o melhor de todos. DC Comics Guide to Creating Comics: Inside the art of Visual Storytelling de Carl Potts trata majoritariamente do aspecto mais importante da produção de uma HQ, a narrativa visual. Potts é um veterano com vasta experiência na indústria, é artista, escritor e foi editor da Marvel na década de 1980 e 1990 descobrindo e conduzindo talentos como Mike Mignola e Jim Lee. Este último aliás é o autor do prefácio do livro. Se beneficiando da base construída pelos livros anteriores da coleção, Potts parte direto para explorar os conceitos da narrativa visual e da contagem de uma história em quadrinhos.

 

Dos seis livros só os dois primeiros foram lançados aqui pela Opera Graphica em 2005 sob o título Guia Oficial DC Comics Roteiros e Desenhos compilados em uma única luva. Mas vale a pena correr atrás dos originais e dos demais livros da série.

2014

 

2013

 

2012

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