Rick Troula


Batman, Private Eye, Criminal e a Arte de Wayne Reynolds!
26 de Novembro de 2013
O objetivo aqui é falar de quadrinhos. Majoritariamente quadrinhos publicados no exterior. Neste espaço buscarei comentar títulos de quadrinhos publicados nos EUA e na Europa que possam interessar aos leitores gongnianos. Eventualmente resgatarei publicações mais antigas indicando possíveis leituras e ocasionalmente posso tocar no universo dos Mangás, mas será muito raro, pois confesso minha ignorância no tema. Além disso, sempre que possível, abordarei artbooks e livros sobre artistas no geral.

BATMAN BLACK AND WHITE
Lançada na metade da década de 1990, a mini série Batman Black and White fez um sucesso inesperado pela cúpula da DC, mas não por seu idealizador. Mark Chiarello é um dos mais inventivos artistas de quadrinhos e diretor de arte da DC há um bom tempo e sua idéia para série era reviver as antigas antologias da Warren recheadas de grandes artistas. Por causa do formato de antologia não muito celebrado pelos fãs de quadrinhos e por ser preto e branco os editores da DC não esperavam que a série fizesse sucesso. Essa estúpida idéia de que gibis preto e branco não tem o mesmo valor dos coloridos tende a dominar boa parte do publico de quadrinhos e impede muitos títulos de serem lançados dessa forma. Eu particularmente adoro gibis assim e sou fã das histórias da Warren, e felizmente não sou o único, pois a série foi um sucesso de público e crítica e gerou uma nova investida esse ano. Volto nisso mais pra baixo.
A série era exatamente isso, grandes artistas e escritores de quadrinhos trazendo histórias curtas do Batman. Muitos já haviam trabalhado com o Homem Morcego, mas muitos nunca haviam emprestado seu traço ao personagem. A série trouxe a oportunidade de ver diversas interpretações diferentes do Batman e histórias de tudo que é tipo e gênero. As edições foram compiladas em encadernados que fazem sucesso até hoje. É uma das publicações mais legais do Batman, com trabalhos de autores do calibre de Joe Kubert, Bruce Timm, Archie Goodwin, Kent Williams, Neil Gaiman, Simon Bisley, Klaus Janson, Kevin Nowlan e até Katsuhiro Otomo. E as edições
Private Eye (http://panelsyndicate.com/) é um gibi online lançado por Brian K Vaughan e Marcos Martin abordando um futuro onde a internet “morreu” e as pessoas escondem suas vidas privadas atrás de máscaras usadas no dia a dia. A identidade secreta é um desejo desesperado de todos neste thriller de ficção científica.
Vaughan é o celebrado autor Y: The Last Man e do já abordado aqui Saga, e Martin já desenhou diversos títulos para a Marvel e DC, em especial Daredevil e Amazing Spider-Man. O gibi, que já está no quarto volume, foi lançado com a proposta de o leitor pagar o quanto quiser para lê-lo. É possível não pagar nada até. E essa proposta atraiu bastante atenção e interesse do público gerando mais receita do que os autores esperavam. Tudo a ver com o tema das colunas “Diversão na Era Digital” de Guilherme A. neste mesmo Gong (Coluna). A dupla trabalhou junta na boa mini série do Doctor Strange e é legal vê-los juntos de novo, mesmo que em alguns momentos a qualidade do gibi caia um pouco. Mas suponho que seja ainda fruto do processo de adaptação à nova mídia.
O protagonista da história é um detetive particular ajustado à essa nova realidade sem internet e com pessoas guardando segredos atrás de suas máscaras usadas fisicamente nas ruas, uma reinterpretação do clássico detetive noir. E ele se mete em uma investigação com uma bela cliente que nos faz explorar esse novo mundo criado por Vaughan e Martin.

PRIVATE EYE
ainda tinham pin ups de gente como Neal Adams, Moebius, Alex Ross, Mike Silvestre e Michael Kaluta além das 4 capas feitas por Jim Lee, Frank Miller, Barry Windsor-Smith e Alex Toth. Só feras. A série fez tanto sucesso que ganhou uma versão tridimensional quando a DC Direct, braço de merchandasing da DC, lançou estatuetas do Batman inspiradas nas interpretações de diversos artistas, todas em preto e branco. A linha logo expandiu o conceito convidando muitos outros artistas que não integraram a série em quadrinhos para criar estatuetas das versões deles do personagem.
E esse ano a série foi trazida de volta com o mesmo conceito destacando artistas atuais. Duas edições já foram lançadas e não decepcionaram, com destaque para as histórias de Chip Kidd e Michael Cho, John Arcudi e Sean Murphy, Howard Mackie e Chris Samnee na número 1. E Dan Didio e J. G. Jones, Rafael Grampá e Rafael Albuquerque no número 2. Mal posso esperar as próximas.


O único senão é a qualidade de impressão de muitas das imagens. Cerca de 1/3 das imagens do livro são pixeladas ou ligeiramente embaçadas, cagada monstra de quem editorou o livro e inadmissível em um trabalho desse nível pelo preço de 30 dólares. Mas ainda assim não estraga a possibilidade de ter uma compilação dos trabalhos desse grande artista.





A história se mostrou interessante e intrigante o suficiente para me prender na primeira edição e me levar a comprar a segunda. É, eu paguei, achei sacanagem levar de graça sendo que eu podia pagar. Até porque eu comecei a publicar meu próprio gibi online e me senti na obrigação camarada de ajudar. E não me arrependi, acabei de baixar a quarta edição e a história continua avançando bem. O texto de Vaughan é bom também aplicado a esse thriller de investigação e a arte de Martin é simples e certeira, coisa difícil de fazer. E ele usa bem o formato online explorando o design das páginas e o ritmo do storytelling para potencializar o caráter investigativo da história.
Sugiro uma olhada, mesmo que de graça.
CRIMINAL

Escrita por Ed Brubaker e desenhada por Sena Phillips, Criminal é um gibi diferente. A proposta é contar histórias de crime e violência ambientadas basicamente na mesma cidade porém usando personagens diferentes em cada arco de histórias. Brubaker e Phillips já trabalharam juntos em muitos outros títulos desde o lançamento da primeira mini série de Criminal, mas pra mim este é o trabalho insuperável deles. Talvez equiparado por Sleeper, que é genial.
Criminal apresenta diversos criminosos em tramas violentas e brutais no melhor estilo noir. A primeira min série foi lançada em 2006 e durou 10 edições e mais 5 já saíram, a última em 2011, todas excelentes. Cada mini série funciona independente das demais, porém explorando personagens cujas histórias se relacionam e se conectam de formas criativas e inteligentes. Os personagens são muito bem elaborados, todos bandidos, marginais e canalhas, uns piores do que os outros.

Sugiro que você leia todos, mas se possível, corra atrás do gibis mensais, pois eles trazem um extra que as edições encadernadas não compilam. Toda a edição apresenta um review de um filme que influenciou o gibi de alguma forma através de colunas assinadas por diversos escritores bons de quadrinhos e ilustradas pelo próprio Phillips. Material de primeira.

VISIONS OF WAR – THE ART OF WAYNE REYNOLDS
Finalmente saiu o livro sobre a arte de Wayne Reynols! Visions of WAR é uma retrospectiva do trabalho deste que é um dos mais consistentes e importantes ilustradores de RPG. Se você já pôs as mãos em alguns dos livros da Wizards of the Coast ou da Pazio nos últimos anos você certamente viu as ilustrações de Reynolds. Dono de um estilo bastante detalhista no que diz respeito a equipamentos e vestimenta dos personagens, ele combina essa característica que faz qualquer nerd ou rpgísta feliz com interpretações não tão realistas de cenas pertencentes a qualquer boa aventura. Ele estiliza suas figuras suficientemente para que elas não sejam fotográficas, mas para que ainda assim funcionem no universo de ilustrações de fantasia.
O livro é ótimo e recheado de desenhos em diversos estágios de produção e inúmeras ilustrações finais em suas 256 páginas. A seleção de trabalhos é sensacional e abrange boa parte da carreira desse artista que não é tão presente online como muitos de seus pares. O acesso aos desenhos a lápis dele é especialmente interessante no livro, eles são sensacionais.


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