Rick Troula


Pizza Dog, X-Girls, Aranha 2099 e Kin Jung Gi!
02 de Setembro de 2013
O objetivo aqui é falar de quadrinhos. Majoritariamente quadrinhos publicados no exterior. Neste espaço buscarei comentar títulos de quadrinhos publicados nos EUA e na Europa que possam interessar aos leitores gongnianos. Eventualmente resgatarei publicações mais antigas indicando possíveis leituras e ocasionalmente posso tocar no universo dos Mangás, mas será muito raro, pois confesso minha ignorância no tema. Além disso, sempre que possível, abordarei artbooks e livros sobre artistas no geral.

HAWKEYE #11
Ok, ok, você vai dizer que eu estou falando de novo do Hawkeye e você está certo, mas não da pra não abordar a décima primeira edição desse gibi dedicada e conduzida pelo cachorro Pizza. Se você não sabe de que gibi eu estou falando fuce as colunas anteriores e volte até a primeira pra entender o que eu já abordei. O gibi continua ótimo, mesmo tendo rodado um pouco nas mãos de outros artistas com uma sintonia não tão boa com o título, ele teve ótimas edições desde que eu o mencionei. E esta décima edição é genial. Sem entregar muito do que está rolando, o gibi é narrado e apresentado do ponto de vista do cachorro que Clint Barton resgatou lá na primeira edição e apelidou de Pizza Dog, e depois Lucky. E a idéia é construída de forma magistral explorando visualmente a percepção do cão de tudo que se passa e do ambiente que o cerca. A larga utilização de desenhos esquemáticos e “infográficos” do entendimento do animal de tudo aquilo que ele fareja e escuta é genial chegando-se ao ponto de não entendermos quase nada do que se é dito nos balões, apenas palavras identificáveis pelo cachorro.
Hawkeye #11 é uma das mais interessantes e divertidas utilizações da linguagem dos quadrinhos que eu vi nos últimos tempos. Arrisco dizer que é storytelling na sua melhor forma. Preste atenção na genialidade da realização, nos detalhes e na construção da contagem dessa história. Dos quadrinhos completos aos esquemáticos e aos infográficos é tudo muito bem feito. Esse já é um gibi que prima pela inteligência e pelo respeito a inteligência do

Você pode achar que é prematuro elogiar ou falar de um gibi que está ainda no início, o terceiro número é ainda recente, e você está certo. Em parte. A regra das seis edições ou do primeiro arco dita cautela ao abordar novos gibis mensais tanto para não se empolgar demais com porqueiras disfarçadas como para não ser injusto com histórias que demoram a decolar. Mas cabe aqui a analise, no significado mais leve do termo, especialmente por causa dos criadores e do tema do gibi. Brian Wood, o escritor, é conhecido e reverenciado por suas histórias sobre pessoas, pelo teor mais intimista de suas narrativas e pelo cuidado com o personagem. Olivier Coipel, o artista, prima por uma arte belíssima e dada ao espetáculo, às cenas grandiosas e a movimentação dinâmica. Não é uma combinação muito óbvia nem fácil a junção destes dois em um titulo de super heróis, e fica claro na primeira edição que eles ainda estão se ajustando ao trabalho em equipe que uma HQ a demanda. Mas a interação promete. Wood trabalha bem demais com as personagens e explora livremente sua interpretação, quase que ignorando os outros tantos títulos usando as mesmas personagens. Storm, Rougue, Psylocke, Kitty Pride e Jubilee soam perfeitamente à vontade no texto de Wood. E são muito bem representadas por Coipel, assim como tudo aquilo que as cerca.

X-MEN
O novo título dos mutantes em uma longa linha de títulos mutantes é a versão de Brian Wood e Olivier Coipel para os X-Men. A idéia é abordar um grupo composto de personagens femininas, ou melhor, abordar as aventuras de algumas das personagens femininas dos X-Men. Que, aliás, tem algumas das mais interessantes personagens femininas dos quadrinhos de super herói.


Há um tempo atrás a Marvel relançou a edição encadernada dos primeiros 10 gibis do Spider-Man 2099 originalmente lançados na década de 1990. A iniciativa da linha 2099 era apresentar o universo Marvel um século no futuro e explorar alguns de seus personagens mais famosos. O mundo Marvel 2099 é um universo ciberpunk dominado por mega corporações e seus personagens se inserem nele. A linha no geral era muito ruim, com títulos porqueiras do Dr. Doom e do Punisher, mas Spider-Man 2099 era bom demais.
Escrito por Peter David e desenhado por Rick Leonardi o gibi ainda contava com arte final de Al Williamson. O título abordava as aventuras de Miguel O’Hara, o primeiro aranha latino, um geneticista que após um acidente desenvolve os poderes semelhantes ao Aranha original. A série era interessante e David explorava a rica história do Spider-Man recriando-a e inventando novas situações para a versão 2099 do personagem. A arte de Leonardi é a melhor de suas produções que eu vi e explodia nas cenas de ação, o que é um requerimento pro personagem, mas eram especialmente bem trabalhadas nas acrobacias do protagonista em meio aos prédios de uma New York futurista.
Eu li a série toda quando a Abril a lançou por aqui naquele formatinho escroto, mas não tinha tido a oportunidade de relê-la nesses anos todos. E fazê-lo em seu formato original é uma oportunidade muito legal. E o gibi é bom como eu lembrava o que é raro de se dizer de muitas das criações da década de 1990.

KIM JUNG-GI 2011 SKETCHBOOK
Eu adoro sketchbooks, é a melhor forma de se estudar o desenho de um artista favorito. É um acesso ao desenho mais visceral. E felizmente eles existem aos montes, dos mais sofisticados e publicados por grandes editoras, aos mais simples e lançados pelos próprios artistas, meus preferidos. Alguns trazem algumas páginas de esboços, outros oferecem também pedaços de processos de trabalho e alguns trazem até algumas artes finalizadas. E eles existem em diversos formatos e tamanhos, até na gigantesca compilação dos sketches do quadrinista coreano Kim Jung-Gi. Autor de alguns Manwhas, HQs coreanas, Kim Jung-Gi lançou três sketchbooks titânicos e o segundo, de 2011, possui mais de 600 páginas em um formato A4. Um legítimo tijolo.

leitor, diversas coisas são apenas sugeridas e não extensivamente contadas como a grande maioria das peças de entretenimento, boa parte da história se passa fora dos quadrinhos e nós acompanhamos não só grandes momentos como também momentos pequenos, que nem sempre são mostrados em uma história grande sobre um super herói. E é nesses momentos que o gibi, que já é inteligente, arrebenta. E é isso que permite uma edição como essa.
O gibi traz o time titular criativo de volta com Fraction nos roteiros, Aja na arte e Hollingsworth nas cores. E eles fazem um baita trabalho. Na série como um todo, desde a primeira edição, Matt Fraction escreve diálogos inteligentes e ágeis e acerta em cheio na interpretação de Barton. O tom é esperto, engraçado e ágil sem ser babaca nem esnobe. A história é dinâmica e contada de forma a explorar diversos pontos de vista sem se prender em nenhum e sempre voltando para o arqueiro protagonista. A arte de Aja é simples e direta e ao mesmo tempo rica e dinâmica. A todo o momento penso que eu queria ter desenhado essa cena ou pensado nesse enquadramento. Costumo admirar artistas com linguagens econômicas como o mito David Mazzucchelli e o mestre Alex Toth e David Aja bebe em ambos trazendo um desenho inspirador e simples, o que é muito difícil de fazer. E Hollignsworth é genialmente discreto em suas paletas e assertivamente preciso nas suas opções de cor. Trabalho brilhante. E essa décima primeira edição traz ainda os gráficos de Chris Elliopoulos, que geralmente é o letrista, mas que neste gibi faz os gráficos que representam visualmente a percepção de Lucky.
Hawkey é o melhor gibi de super herói por aí, não, esquece isso, nem da pra colocá-lo na mesma prateleira dos demais gibis de supers, ele é muito diferente. A vibe dos filmes de ação setentistas que o permeia dialoga com soluções narrativas modernas que aludem ao trabalho de Chris Ware, especialmente nesta edição 11. Em um gibi surpreendente é um feito que uma edição surpreenda mais ainda com sua originalidade. E eu entendo que não seja tão fácil de acompanhá-la logo de cara pra quem não se empolgue tanto com narrativas visuais, mas não se preocupe você tem dez edições pra chegar nela. Vá ler!



O título é uma ótima história de super heróis, se recostando pouco na extensa mitologia mutante e sim explorando as diversas novas possibilidades de se trabalhar com mutantes nos dias de hoje. Foram só três edições, mas que até agora inspiraram fidelidade a este leitor.
SPIDER MAN 2099
O livro é recheado de esboços de personagens, desenhos de observação, páginas de quadrinhos nos mais diversos estágios de produção e uma centena de desenhos pornográficos. Pornográficos pra valer. O sketchbook oferece uma ampla amostragem do impressionante trabalho de Kim Jung-Gi, ricamente detalhado e extremamente original e expressivo. Seus desenhos de observações são assustadoramente reais e suas cenas são insanamente preenchidas. Basta ver os vídeos que tem dele por aí pra ver que o cara é uma impressora.
Não é muito fácil de conseguir os livros dele, ou melhor, não é muito barato, pois em função do peso sai caro trazê-los pro Brasil. Mas a inspiração vale cada centavo. Procure no site dele www.kimjunggi.net pelas informações de compra.

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