top of page

Dungeons & Dragons 5ª Edição - Primeiras Impressões

                   

 

                  Eric Diaz

                         04 de Janeiro de 2015

Resenhar uma nova edição de Dungeons & Dragons é uma tarefa muito mais difícil do que fazê-lo com um novo RPG qualquer. A marca D&D em si traz uma grande carga de preconceitos, positivos e negativos. Embora ela atraia uma dose inegável (e invejável) de atenção mesmo antes do lançamento de novos produtos, alguns jogadores de RPG já tem opinião formada sobre o jogo e passam longe de qualquer coisa relacionada à linha.

 

Mesmo entre os fãs, as divisões podem se tornar acirradas. Cada nova edição traz a ira dos mais conservadores. Compare tal situação com o que acontece em uma nova edição de GURPS ou Call of Cthulhu, por exemplo: mesmo considerando que o número de fãs desses RPGs é menor, os conflitos não chegam nem perto das guerras fratricidas promovidas com o lançamento da 3ª, 4ª e agora, 5ª edição de D&D.

 

Quem não vê o D&D como o RPG definitivo pode se dar ao luxo de ser um pouco menos interessado nesses debates, mas, se já tiver jogado bastante, dificilmente poderá dizer com sinceridade que não tem nenhuma edição preferida. É esse meu caso: eu gosto muito de D&D, embora não seja meu RPG preferido, e tenho especial carinho pelo AD&D 2ª edição, que foi o que eu conheci em primeiro lugar. No entanto, acho que tem coisas interessantes em todas as edições, e vejo (óbvios) pontos negativos até nas minhas versões preferidas.

 

Se você está se perguntando qual a razão desse prelúdio todo, e quer saber logo se D&D 5e é bom ou não, eu explico: eu acho que sim, mas se você já é fã de D&D, suas preferências já estão mais ou menos definidas, e se você não é, eu recomendaria jogar QUALQUER edição, porque elas todas tem coisas legais.

 

Por isso, nesse artigo eu vou focar mais em descrever a 5ª edição – especialmente em comparação com as edições anteriores - do que em julgar se as ideias que ela decidiu adotar são boas ou ruins segundo meus gostos pessoais, que podem ser diferentes dos seus (ok, no final eu vou dar minha opinião, pra não dizerem que eu fugi da raia). Com o mesmo intuito, o artigo foi feito em forma de perguntas e resposta, para que você possa ir direito ao que mais te interessar. Vamos lá!

2014

 

2013

 

2012

ARQUIVO

Colunas

As regras são complexas?

 

Não. Muito pelo contrário.

 

O D&D 5e tem mecanismos bastante simples, beirando o minimalismo. Isso pode mudar, é claro, com o lançamento de novos livros (a começar pelo Dungeon Master's Guide), mas até agora o cerne do sistema uma das mais simples versões já feitas das regras tradicionais de D&D.

 

Conceitos clássicos de D&D como pontos de vida (HP), classe de armadura (AC) e ataques de oportunidade são mantidos. O número de perícias (skills) é relativamente enxuto (são menos de vinte), e todas elas recebem o mesmo bônus, se o personagem for treinado – bônus que varia de +2 a +6 conforme o level. Os saving throws são tratados de forma bastante semelhante, embora agora seja 6 (um para caba ability). O mesmo vale para os bônus de combate.

 

Em suma, a matemática é mais simples, os bônus são menores, e as explicações são claras. Pra quem gosta de RPGs mais simples que D&D, a 5ª edição parece uma boa recomendação. Já pra quem achou as outras edições simples demais, também não vai gostar dessa.

 

 

A criação de personagens é flexível?

 

Não especialmente.

 

A criação de personagens, como em outras edições, é fortemente baseada na escolha de classes. Embora ainda existam feats, multiclassing, subclasses e outras variações, o que mais define o personagem ainda é sua classe, nível e raça. As habilidades básicas vão somente até 20 como regra, o número de feats até agora é bem limitado, as armas não são detalhadas o suficiente para justificar grandes diferenças, e assim por diante. As possibilidades de customização são limitadas, embora a variedade ainda esteja presente em conceitos como backgrounds e flaws, que afetam mais a representação dos personagens do que as rolagens de dados.

Com qual edição a 5ª mais se parece?

 

Embora tenha elementos de todas, a 5ª edição se parece mais com uma versão mais simples e bem-acabada da 2ª, com alguns elementos da 3ª e AD&D. Existem poucos elementos típicos da 4ª edição ou edições anteriores à 2ª.

 

Se você se interessa por esse tipo de detalhe, a 5ª edição tem classe de armadura (AC) ascendente, seis “saving throws” (um para STR, outro para DEX, outro para CON, e assim por diante), magia “vanciana” ligeiramente alterada, menos de 20 skills, alguns feats (encarados como uma regra opcional) e progressão idêntica de XP (pontos de experiência) para todas as classes.

 

E quais são as novidades dessa edição?

 

Eu diria que as novidades são poucas, boas e modestas. Ao menos três merecem menção especial.

 

Há a onipresente mecânica de vantagem/desvantagem – ao invés de ganhar pequenos bônus por se esconder, atacar pelas costas, desequilibrar o adversário, etc, quem está na vantagem joga dois d20 e usa o valor mais alto, sendo a desvantagem o contrário.

 

Outro conceito relativamente novo em D&D é o uso de características do personagem mais ligados à interpretação como bonds, flaws, goals e personality traits, que ajudam a

dar muita mais vida e personalidade aos personagens do que uma simples escolha de alinhamento. Eles funcionam mais ou menos da mesma forma: sempre que o personagem se comporta de acordo com tais características, ele ganha “inspiração”, e pode usar essa inspiração para ganhar vantagem numa única jogada.

 

Há também o conceito de “bounded accuracy”, a ideia de que os bônus dos personagens, tanto de ataques quanto defesas, não aumentam muito com o passar dos níveis. Por exemplo, um guerreiro de nível 20 pode ter um bônus de ataque de meros +6, além do seu bônus de força, num total de até +11. A única coisa que aumenta constantemente são os pontos de vida. A ideia é que um mísero goblin não representa muito perigo para um guerreiro experiente, mas uma tropa deles sim.

A nova edição é compatível com meus livros antigos?

 

Não muito. Por causa do conceito de “bounded accuracy”, explicado acima, os personagens de níveis altos tem bônus bem menores do que suas contrapartes em outras edições, então utilizá-las requer uma conversão com uma boa dose de matemática. Várias conversões já pipocaram na internet, é claro, mas não é coisa que dê pra fazer de cabeça.

 

Os magos ainda são muito superiores aos guerreiros e outras classes nos níveis mais altos? Ainda existe o tal LWFQ (Linear Warrior, Quadratic Wizard)?

 

Sim, embora nem tanto quanto em algumas das edições anteriores (como a 3ª). Na verdade, ainda é um pouco cedo para dizer, mas até agora a impressão que eu tenho é que os magos (e clérigos, feiticeiros, etc) continuam com a tendência de ser mais poderosos, flexíveis e impressionantes que guerreiros. Magos ganham novos meios de controlar mentes, voar e alterar a realidade, enquanto guerreiros ganham ataques extra. Por outro lado, os magos continuam a ter uso mais limitado de suas magias mais poderosas, e dependem de descansos para poder utilizá-las novamente, como é de costume.

 

O assunto é controverso. Pra muita gente, isso não atrapalhou em edições anteriores e nem vai atrapalhar agora. O que se pode dizer é que a 5ª edição não se preocupou muito em resolver a questão de uma maneira diferente das demais,

nem manteve a solução da 4ª edição de dar a todas as classes alguns poderes de uso limitado.

 

O D&D finalmente chegou ao século XXI, com versões eletrônicas para ler onde você estiver? Ou ainda está na era dos papiros e pergaminhos?

 

Aqui, a boa notícia é que a WotC (Wizards of the Coast, empresa que produz o D&D) disponibiliza uma versão gratuita dessa edição em formato PDF. As regras são parecidas com as do Player's Handbook, apenas com menos opções de classes, raças, sem feats, etc. O D&D Basic é atualizado com cada lançamento, e até dá pra jogar com ele.

Você pode baixar essa regras aqui:

 

http://dnd.wizards.com/articles/features/basicrules?x=dnd/basicrules

 

Por outro lado, ainda não é nada tão bom quanto o que eles fizeram na época da licença OGL e do SRD, que permitiam acesso basicamente irrestrito para qualquer um ter acesso às regras de D&D e até publicar seus próprios livros utilizando-as. Nesse aspecto, D&D andou para trás desde a OGL.

 

Pior ainda é que, ao contrário da maior parte dos RPGs e de todo material que é publicado no mundo, inexiste uma versão eletrônica dos livros completos. É isso: até agora, se você quiser jogar com eles, pode preparar sua mochila para carregar, no mínimo, três livros de 320 páginas cada.

 

E se você se acostumou a ler livros em seu tablet ou celular, azar o seu. Cabe a você decidir se vai se tornar um perigoso pirata e achar uma versão eletrônica não oficial (já que você não pode pagar por uma versão eletrônica, mesmo que queira), ou baixar a cabeça aceitar que, mesmo no ano de 2014, ainda tem gente que prefere produzir seu material exclusivamente em árvores mortas.

 

Ao menos o site da WotC é bonito e funcional para quem quer conhecer D&D, e vários tipos de auxílios eletrônicos estão sendo prometidos para o futuro. Vamos esperar pra ver.

E a arte?

 

Novamente é uma questão de gosto. Eu até agora estou gostando bastante. Muita coisa tem uma pegada mais realista sem deixar de lado o tom épico e fantástico. Tem algumas escorregadas (o conceito visual dos halflings atraiu especial ódio de muitos fãs), falta um pouco de humor e sujeira, e não tem nada que faça cair o queixo, mas no geral a arte é de boa qualidade, e parece estar indo no caminho certo, especialmente por causa do tópico logo abaixo...

Mais alguma coisa importante a acrescentar?

 

Não dá pra falar da nova edição sem mencionar que a WotC ao menos parece estar se esforçando parta incluir uma ampla gama de jogadores, e não um público-alvo restrito.

 

A arte inclui muitos tipos de etnias e culturas, não só o típico (e fantasioso, e tedioso) “mundo medieval branco e europeu” sem influências de culturas reais fora da Europa ocidental – e ignorando boa parte da diversidade da própria Europa. A arte do background “soldado”, por exemplo, é uma guerreira com armadura samurai e espadas ao estilo japonês. Ou seja, um “soldado” não é um homem europeu com espada e escudo, é simplesmente alguém treinando para guerra, não importa de que cultura, gênero, etc.

 

As mulheres não são incluídas em poses exclusivamente frágeis ou sexualizadas, como acontece em muitos RPGs. Armaduras com seios ou decotes estão ausentes (felizmente). E o Basic D&D resolveu dizer de forma bem clara que os personagens não precisam estar limitados a concepções binárias de sexualidade, podem ser “andróginos” ou “hermafroditas” (nas palavras do livro) e ter a orientação sexual que bem entenderem.

 

A nova edição também se esforça para ser atraente para novos jogadores, sem ignorar os jogadores veteranos. As regras são simples o suficiente para qualquer iniciante, mas respeitam as tradições do D&D e vão parecer familiares ao que já jogam há tempos.

 

Ainda há espaço para evolução, e esse é um bom começo para tornar o hobby mais atraente para um número maior de pessoas.

 

 

No final das contas, você gostou da nova edição?

 

Se você realmente quer saber minha opinião pessoal, eu gostei bastante. Apesar da atitude conservadora de privilegiar as ideias clássicas ao invés de tentar revolucionar a marca, para quem gosta de D&D tradicional, a nova edição é uma das mais simples e bem-acabadas que você pode achar.

 

Se eu fosse começar um jogo de D&D hoje, é muito provável que eu utilizasse a 5ª edição como base.  E, claro, acrescentasse aquelas centenas de regras próprias que muitos fãs de D&D costumam ter na manga.

GONG Copyright ©  2012. Entretenimento para Geeks, Otakus/Otomes e Nerds em Geral. Versão Beta 1.0                                                                                                            gong.com.br  -  Todos os direitos reservados

Todas as imagens e vídeos de filmes, séries e etc são marcas registradas dos seus respectivos proprietários.

A reprodução do conteúdo deste site é autorizada desde que cite a fonte.

GONG Copyright ©  2012. Versão 2.0 (2015)                                                                                                                                                                       gong.com.br  -  Todos os direitos reservados

Todas as imagens e vídeos de filmes, séries e etc são marcas registradas dos seus respectivos proprietários.

A reprodução do conteúdo deste site é autorizada desde que cite a fonte.

bottom of page