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                  Eric Diaz

Participação e financiamento coletivo

01 de Maio de 2013

Entre as vantagens que as novas tecnologias tem proporcionado aos consumidores e produtores de conteúdo, uma das mais interessantes é a participação. Embora os produtos tenham outras características muito mais importantes, como a honestidade e a transparência (que chegam a ser expressamente protegida por lei, como no caso do direito à informação previsto no Código de Defesa do Consumidor), a participação dos consumidores é especialmente relevante no momento por causa do sucesso das formas de financiamento coletivo, como o Kickstarter, Indiegogo e o brasileiro Catarse, entre outros, e as novas possibilidades de interação que esses meios estão trazendo, tornando menos rígida a linha que separa os consumidores dos criadores e produtores.


Existem formas intensas de participação: no Kickstarter do filme “Wish I Was Here”, por exemplo, que recentemente atingiu sua meta de dois milhões de dólares em menos de cinco dias (e caminha na direção de tornar-se um dos maiores projetos de financiamento coletivo até o momento), alguém rapidamente se dispôs a pagar dez mil dólares para aparecer brevemente em uma das cenas, enquanto outros preferiram participar das primeiras exibições e festas com o elenco. Já “The Veronica Mars Movie Project”, que levantou quase seis milhões de dólares com o apoio de mais de noventa mil pessoas, ofereceu para quatro fãs uma sessão especial em suas respectivas cidades para cinquenta convidados, por cinco mil dólares.



Ainda são exemplos tímidos. A capacidade de “dar ao público o que ele quer” aumentou exponencialmente, e em breve surgirão possibilidades extremas aos financiadores, como influenciar o enredo ou elenco. Certamente isso pode gerar consequências bizarras, como já acontece quando produtores profissionais interferem no trabalho de artistas, mas o ponto positivo é que os próprios artistas poderão escolher se preferem ser financiados por seus fãs ou por um profissional, às vezes optando pela primeira opção justamente em busca de maior liberdade criativa, como afirmado pelo próprio criador de “Wish I Was Here”.

Concept art de "Wish I Was Here"

No entanto, a forma mais básica de apoio ainda é uma das mais interessantes: em muitos projetos, o financiador pode oferecer uma pequena contribuição que não lhe confere nada em troca além da satisfação de saber que ele ajudou a trazer algo belo ao mundo, ou um agradecimento com seu nome nos créditos.


Essa pode não ser a forma de contribuição mais comum no momento – muitos financiadores querem, é claro, receber o produto que financiaram, e muitos produtores ainda usam as formas de financiamento coletivo como simples “pré-venda” de produtos, sem se preocupar em interagir com os financiadores de forma mais significativa – mas, em muitos casos, já se torna uma das mais importantes.

 

Dois exemplos recentes ilustram a questão: os livros de RPG FATE Core e Transhuman: The Eclipse Phase Player's Guide, que tiveram sucesso no Kickstarter, o primeiro levantando quase meio milhão de dólares e o segundo batendo sua meta de US$14.000,00 em cerca de um dia (enquanto essa coluna é escrita, o projeto já arrecadou mais de quarenta mil dólares, faltando 22 dias para o final do prazo de financiamento).

Nos dois casos, embora alguns produtos e acessórios tenham sido oferecidos, os dois livros financiados poderão ser baixados gratuitamente, por qualquer pessoa, após a publicação. Ou seja, muitos dos financiadores receberam apenas o prazer de financiar um produto que será distribuído sem custo para quem desejar. Trata-se de uma visão bastante diferente das tradicionais relações de consumo, e que inverte a lógica da escassez, uma vez que os apoiadores estão se dispondo a pagar por algo que poderiam conseguir de forma gratuita.


O caso da Posthuman Studios, editora de Transhuman, é especialmente interessante, por ter adotado integralmente a licença Creative Commons para todos seus livros, permitindo seu compartilhamento gratuito, de forma que, basicamente, tudo o que recebe é o que seus fãs decidem lhe pagar – além da versão gratuita, a Posthuman vende uma versão IDÊNTICA por quinze dólares para quem quiser contribuir, que se tornou um bestseller do site DriveThruRPG. Utilizando tal modelo, a Posthuman adquiriu sucesso e notoriedade consideráveis.

 

Além desses exemplos recentes, inúmero projetos que utilizam a licença Creative Commons (em suas várias modalidades) vem sendo bancados por financiamento coletivo - aqui há uma lista interessante (embora ainda modesta) de músicas, livros, sites, jogos, exposições, e apps relevantes.


Nesse novo modelo, o apoio de uns poucos pode fazer com que o mundo, como um todo, tenha acesso gratuito a um acervo artístico cada vez mais rico, numa versão moderna e democrática do antigo mecenato – e, com milhões de Caios Mecenas, quantos Horácios e Virgílios poderão aparecer?


Obs.: os jogos eletrônicos, que tiveram vários exemplos de sucesso no Kickstarter, merecem um artigo próprio, por isso deixei de mencioná-los aqui.

Transhuman: The Eclipse Phase Player's Guide

2014

 

2013

 

2012

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